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“Tolerância será zero com indígenas e MST", diz Tereza Cristina, nova ministra da Agricultura

Conhecida como “musa do veneno”, confira quem é e o que pensa a deputada federal, hoje uma das principais vozes do agronegócio do país



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Sem Terras, indígenas e outros movimentos sociais ligados ao campo enfrentarão sérios riscos no governo de Jair Bolsonaro (PSL). A tolerância será zero, foi o que adiantou nesta sexta (09) em coletiva à imprensa a futura titular do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), a deputada federal Tereza Cristina (DEM/MS).

Durante a coletiva, na cidade natal da parlamentar, Campo Grande (MS), Cristina também revelou que o nome para o Ministério do Meio Ambiente passará por seu crivo. O escolhido precisa ser um “quadro técnico”, “sem ideologia” e que possa dar agilidade aos processos.

A escolha de Tereza Cristina para comandar o Ministério da Agricultura não surpreende. Ela comanda a FPA (Frente Parlamentar da Agropecuária), a primeira a manifestar publicamente apoio a Bolsonaro durante a campanha eleitoral. Com a deputada, ele conseguiu fôlego para declarar que teria uma grande base de sustentação na Câmara para aprovar projetos como o estatuto do desarmamento e redução da maioridade penal.

Após o anúncio, várias instituições ligadas ao agronegócio em Mato Grosso do Sul se posicionaram a favor, como o próprio governo estadual, a Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul (Famasul), a Associação dos Produtores de Soja (Aprosoja/MS), Sindicato Rural de Campo Grande, entre outros.


Mas, quem é e o que pensa a deputada?

Formada em engenharia agronômica pela Universidade Federal de Viçosa (MG), aos 64 anos, Tereza Cristina tem uma longa trajetória no agronegócio.

A FPA, da qual é presidente, conta com 227 deputados federais incluindo os que estão fora de exercício. Ou seja, de um total de 513, mais de 40% dos parlamentares fazem parte da entidade. O nome foi inclusive uma indicação da frente, aceita por Bolsonaro, que define o agronegócio como uma das prioridades na gestão.

Cristina é conhecida como “musa do veneno”, por ter comandado a comissão especial da Câmara dos Deputados que aprovou o projeto de lei que flexibiliza a legislação dos agrotóxicos. Intitulado como “PL do veneno” pela oposição, o projeto foi duramente criticado por ambientalistas e profissionais da saúde por liberar o uso de pesticidas considerados tóxicos.

A parlamentar também foi diretora da Famasul e superintendente do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural em MS. Ela foi indicada pelo PSDB, na época seu partido, para a extinta Seprotur – que hoje é a Secretaria Estadual de Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Produção e Agricultura Familiar – na gestão André Puccinelli (MDB), ex-governador preso no âmbito da operação Lama Asfáltica.

Em 2017, a deputada era presidente regional e líder do PSB na Câmara dos Deputados, mas foi expulsa da direção do partido porque descumpriu a orientação da nacional quando votou a favor da Reforma Trabalhista. Em dezembro do mesmo ano, ela se filiou ao Democratas.


O que se pode esperar da gestão no Mapa?

Pelo menos três pautas devem estar no foco das atenções do governo Bolsonaro, capitaneado pelo ministério de Tereza Cristina: o uso dos agrotóxicos, licenciamento ambiental e a tal da “segurança jurídica” – discurso repetido à exaustão pela deputada durante a coletiva de imprensa em Campo Grande, ladeada pelos caciques do agronegócio de MS – uma ameaça direta aos direitos dos povos indígenas.

Por “segurança jurídica” entende-se que não haverá a demarcação de uma única área indígena no Brasil, além de ser descartada qualquer possibilidade de diálogo com os dispostos a permanecer em suas terras – a ideia é deixar o caminho livre e dar o respaldo necessário para que ruralistas desmatem e se instalem em áreas de preservação e indígenas. “Soa como música para os ouvidos”, disse Tereza aos produtores rurais reunidos na Famasul, ao tranquiliza-los afirmando que Bolsonaro garantiu que haveria “segurança jurídica” para o agronegócio.

Na última quinta (08), durante coletiva de imprensa em Brasília (DF), a deputada disse que a pauta sobre as regras dos agrotóxicos "terá muito espaço" para discussões e que é preciso acabar com a “indústria das multas”.

A fala da parlamentar vai ao encontro dos interesses do grupo que defende. Cristina foi eleita deputada federal pela primeira vez em 2014 com recursos e apoio maciço da classe empresarial do Estado. Produtores rurais e o setor industrial não pouparam esforços para viabilizar a vitória dela, que teve a campanha mais cara daquela eleição.

Entre os maiores financiadores em 2014, estão a Iaco Agrícola – que doou a maior cifra, R$ 1 milhão, Adecoagro Vale do Ivinhema, Banco BTG Pactual, Rodobelo Transportes Rodoviários, Cosan Lubrificantes e Especialidades. A JBS, o frigorífico envolvido no maior esquema de corrupção do país – a Lava Jato – também compõe a lista de doadores.

Não é a primeira vez que uma liderança do agronegócio assume o Ministério da Agricultura. No governo de Dilma Rousseff (PT), a senadora Kátia Abreu (PDT), candidata à vice-presidente do Brasil nas eleições deste ano na chapa de Ciro Gomes (PDT) ocupou o cargo.

Em 2010, Kátia Abreu recebeu o prêmio “motosserra de ouro”, concedido pela ONG Greenpeace a personalidades que contribuem para o aumento do desmatamento no país. Ainda no governo de Rousseff, relatório do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) apontou que a petista foi a que menos demarcou terras indígenas.

Cabe ver se Tereza Cristina vai cumprir com o que se espera dela na prática, ou se vai voltar atrás, como o próprio presidente eleito já fez. No início, ele havia declarado que iria fundir o Ministério da Agricultura com o do Meio Ambiente, mas após críticas de ambientalistas e até dos próprios ruralistas, recuou.


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